"Hanna K" (1983), do diretor grego Costa-Gavras, procura a dimensão
humana do problema do Oriente Médio, observando os personagens como
personagens, e não como peças de algum jogo geopolítico. Gavras, bem na
tradição de seu cinema político polêmico e não esquemático, lança
problemas espinhosos através dos personagens. Hanna - uma judia
americana de origem polonesa cuja família sobreviveu ao Holocausto -
está em crise de identidade, daí o sobrenome K (do seu Kaufman de
solteira), indefinido. Separou-se do marido francês, foi morar em
Israel, espera do novo marido um filho indesejado e tem um amante. Como
advogada, pega uma causa aparentemente perdida, a de um palestino que
tentou entrar de forma ilegal em Israel e é suspeito de terrorismo. Ela
vê na causa uma brecha, o fato de a família do palestino morar em Israel
há tempos e as suas várias tentativas anteriores de entrar legalmente
no país.
Salim Bakri, o palestino, é mostrado habilmente por
Gavras como a identidade de Hanna. É o Kaufman de seu K, um homem
apátrida como foram os Kaufman na Europa nazista décadas antes. O
envolvimento profissional e sentimental dos dois é como um embate de
duas pessoas marginalizadas em busca da identidade perdida.